PAX
Artigo do Reitor do Santuário diocesano de Nossa Senhora de Caravaggio padre Ricardo Fontana publicado no jornal Contexto.
Dia 03 de abril: 40 dias de Guerra, dois países lutando por poder. Nos próximos dias, vamos celebrar a Semana Santa. Dois acontecimentos diferentes e contraditórios. O primeiro evento promove a morte de pessoas inocentes, que não sabem o porquê suas vidas estão sendo interrompidas tão estupidamente. Mudança de caminhos; novos caminhos que serão trilhados contra a própria vontade que distanciam dos projetos e planos sonhados no início da trajetória e que agora estão distantes dos olhos e principalmente do coração, tirando a fé de viver dias melhores. Núcleos familiares estão sendo dissolvidos; mães/esposas e filhos fugindo de suas próprias casas, deixando seus maridos, seus pais para lutar na guerra, com a incerteza de voltar a se reencontrar. Quantos momentos em família destruídos pela guerra, quanto amor desperdiçado.
A Semana Santa, pelo contrário, vem trazer a memória do cristão as lembranças da história de um Pai que envia seu próprio filho ao mundo para anunciar a boa nova da salvação e morrer na cruz, no lugar de cada um de nós. Um Pai que considera cada um de nós como filhos, mesmo que adotivos; filhos que estão presos nas correntes do pecado e precisam ser libertadas das algemas e salvos da condenação da morte. Precisam voltar a viver em unidade, um com os outros, ter a segunda chance de reencontrar pessoas queridas, dar continuidade a realização de seus sonhos e projetos, voltar a viver em estatura e graça diante de Deus.
A guerra só mostra o quanto o ser humano é egoísta e do que ele é capaz de fazer para conseguir o que quer, mostrando um lado sombrio, sem escrúpulos. Quando ele deixa de pensar no seu próximo, esquece que o ser humano vive em relação com outras pessoas. Ninguém consegue nada sozinho, sempre será dependente do outro. Hoje, não é só a guerra da Rússia com a Ucrânia que está acontecendo, há muitas outras guerras acontecendo diariamente, até mesmo dentro de casa. Quando deixamos de dar atenção as pessoas próximas a nós, quando lemos em jornais e revistas: notícias sobre política, economia, saúde; que vemos a desigualdade e a injustiça social acontecendo. A violência no trânsito, nas ruas da nossa cidade, quantas pessoas perdendo a vida em assaltos, acidentes de trânsito, maus tratos, que podemos considerar guerras contra a vida, contra a dignidade da pessoa, contra a casa comum.
Então se faz lembrar: “Escolha entre a vida e a morte, entre a benção e a maldição”. O homem tem o livre arbítrio de fazer escolhas, mas deve ter consciência da responsabilidade e das consequências que a escolha traz. A morte sempre trará a tristeza, a perda, a culpa, a solidão, a incerteza; enquanto a vida traz a graça, o amor, a alegria e a certeza de que somos amados e cuidados por Deus. A morte faz do homem um escravo, sem direitos, sempre terá a sensação de que é culpado, preso a alguma coisa, o medo e a dúvida sempre estarão presentes em seu coração; enquanto que a vida, faz o homem livre, filho do criador em sua imagem e semelhança, sempre se sentirá amado e confiante que a graça de Deus está presente em sua vida.
O homem não pode servir ao Senhor e ao dinheiro, porque amará a um e odiará ao outro ou vice-versa, as coisas do mundo são passageiras, mas as coisas de Deus são eternas. Precisamos voltar nosso coração a Deus enquanto é tempo e descobrir o verdadeiro segredo da vida, o que faz pulsar o coração humano. O homem precisa ter consciência que está de passagem, um dia voltaremos a morada de Deus, aos braços do Pai, e que o homem dirá a Ele sobre a vida que lhe confiou; das pessoas que fizeram parte dela, sobre os dons confiados a ele? Somos uma gota d’água em um oceano, como faço para não secar esta gota?